domingo, 11 de abril de 2010

NOTmyFAULT




Quatro e meia da manhã eu comi um hambúrguer do McDonalds.
Nove da manhã tomei um suco de goiaba.
Nove e meia da noite um copo d'água.

Estou cheia, cheia, cheia.

Com Faca Dentro




- Hoje eu já ri mais que ontem, de qualquer forma.
- Mas, Milena, isso não basta?
- E são pessoas reais?
- Para você, são.
- E são pessoas?
- Para você, sim.

Satine




Ser amada é bom, provei isso. É bom ver o olho da pessoa brilhar quando você chega. É bom ver aquele sorriso sincero quando você está alegre. Mas melhor, muito melhor é amar. Sinceramente, não me importo de amar e não ser amada. Não é o ideal, obviamente, e se as duas coisas ocorrem juntas é o êxtase. Mas, ah, acima de tudo o que me importa é o meu sentimento. É, sem perceber, olhar para o nada e pensar no sorriso do mês passado. É rir sozinha na fila do supermercado se lembrando de um levantar de sobrancelhas. É parar no meio do caminho para o metrô e se arrepiar se lembrando de um toque, do contato das peles, do calor do outro corpo.

Quando eu tinha a Renata eu tinha tudo. Nunca A tive, é claro, mas tinha tudo. Tinha um motivo pra acordar, me arrumar. Um motivo pra ir pra rua. Um motivo para sorrir. Não por ela, mas por mim. Eu tinha um sentimento. Um sentimento que me preenchia inteira, que era forte e ardia como fogo. Tudo podia dar errado, o teto podia desabar. Eu tinha aquele sentimento comigo, e aquilo me bastava.
Com a F eu tinha um relacionamento. Com a Renata, era um sentimento puro e gigantesco. Namorei, beijei, ri de me acabar. Tive aliança, fui ao cinema, dormi abraçada, apresentei pra família. E, ainda assim, não era O sentimento. Era Um sentimento, mas não era O.
E eu sinto falta. Novamente, não da Renata em si. Sinto falta de mim mesma, de quem eu costumava ser. Sinto falta da Milena que se sentia viva a cada instante, porque amava. Eu era completa não por ter alguém, mas por ter a mim mesma. Estava cheia até a borda. Sinto falta dessa Milena, dessa Milena que era capaz de matar e morrer por alguém. Eu assistia Original Sin, assistia Moulin Rouge e entendia. E sentia, e vivia. Hoje, não.

Hoje as pessoas são todas iguais. Do começo do ano pra cá, desde que voltei pra São Pauloe, fiquei afim de algumas garotas. Cheguei a achar que gostava de algumas delas. Mas não passou disso, porque não eram pessoas amáveis. A Renata não sabia que eu a amava, mas se deixava amar. Ela correspondia ao que eu esperava dela; não em ações, mas em atitudes e sentimentos. No balcão da Varella eu a ouvi inúmeras vezes falando de amor. Que sofria, que queria, que achou, que perdeu, que ganhou. Falava dos livros, dos personagens que gostava. Falava de uma música que a lembrava tal pessoa, que riu ao ver algo que a lembrou dela, que chorou ao ver outra coisa.
Mas as outras... as últimas pessoas que conheci parecem não viver isso. Parecem... Não sei. Não confio em pessoas que não sentem, não confio em pessoas que não se importam. Vejo todo mundo ficando. Vão, beijam, fazem o que querem. "Me pego mas não me apego", já ouvi algumas vezes esse ano. Sim, já peguei e não me apeguei. Mas não é o que eu quero, não é o pelo que anseio. Eu quero, acima de tudo, o sentimento. O físico vem depois; o desejo, o tesão, essas coisas todas me parecem secundárias. O físico para mim, antes de uma bunda ou de um decote, é a expressão da alma. Gosto de observar olhares, reações, movimentos. Gosto de perceber a mudança que se passa em uma pessoa quando fala sobre determinado assunto ou pessoa. E ultimamente tenho visto pouco.

Uma vez fui até a locadora com os olhos vermelhos e a boca inchada de chorar. A Renata disse que eu estava bonita. Eu ri, porque "estou acabada e descabelada, Rê". Ela disse que eu estava bonita porqe estava transpirando emoção. E falou mais, falou que gostava de me ver falando sobre coisas que me davam alguma emoção. Raiva, nervoso, alegria. Ela dizia que gostava de me ver sentindo. E foi engraçado ouví-la dizendo isso, porque era exatamente o que eu sentia, o que sinto por todas as pessoas do mundo. Quando eu falei com ela sobre House da primeira vez, ela riu. Achou bonitinho e engraçado como a cada frase eu falava mais alto, mais rápido e gesticulava mais - pelo que, para outras pessoas, era apenas uma série de tv.
Esse não é um texto sobre a Renata, embora fale dela também. É um texto sobre saudade. Saudade que tenho de quem eu era com ela, e saudade do que ela tinha e que poucas pessoas que vejo hoje têm. Essa coisa de prestar atenção.

Em filmes e livros, um olhar diferente ganha destaque. O autor descreve todo um pensamento apenas em dizer uma mudança na atitude de alguém. O filme para por segundos em um olhar, dá um close num toque no braço. E a minha vida é assim, é exatamente assim. Todos esses pequenos gestos são para mim amplificados, têm sua total mensagem exposta, gritada. E as pessoas... e para a maioria das pessoas não é assim.

Eu queria ver essa semana algo desse tipo. Um prova de que ainda existe poesia na cabeça dessas pessoas. Queria que alguém sorrisse por um motivo que ninguém mais entende, porque ninguém mais viu o que essa pessoa viu, embora estivesse ali para quem quisesse ver. Queria que alguém notasse essas coisas que parecem invisíveis para outros olhos.
Queria que me mostrassem que não sou só eu e mais meia dúzia de conhecidos que ainda sente que a vida vai além da superfície. Queria que alguém comentasse que está distraído porque está se lembrando de uma cena. Queria que mais alguém reparasse comigo naquele velhinho do metrô de mãos dadas com a mulher.

Queria que a vida tivesse um pouco mais de poesia, e um pouco menos de "a fila anda". Porque embora hoje eu tenha ouvido um "a fila anda, mas a catraca é seletiva", eu ainda estou pensando em "um amor que não deixa lágrimas não é amor".

Desbotado




O sol nasceu e morreu. Hoje, ontem, como todos os dias. E eu não vi. A janela fechada, toda a luz do quarto é artificial. Cama, cobertas, laptop. Os quatro livros que li essa semana estão empilhados ao lado da cama. O nebulizador que me ajudou com a asma no começo da semana ainda está aqui, assim como o roupão roxo, o celular sem bateria há séculos e o wayfarer com a perna quebrada. Tênis perto da porta. A mala com a qual fui para São Lourenço dia primeiro ainda está no canto, com todas as roupas dentro porque não arrumei nada. O resultado dos exames estão no chão. A estante de livros e dvds está desorganizada, porque apesar de lembrar todos os dias de arrumar tudo por título e assunto há semanas, ainda não fiz nada. O relógio está desligado, com o telefone também desligado em cima. O quadro magnético ainda não tem foto nenhuma, porque também não me lembro de colocá-las. Os bilhetes, lembranças e cartas que guardo desde a quinta série estão nas caixas, jogados em cima do rack. O lixo está cheio de fios de cabelo que caíram ou foram arrancados, pedaços de papel amassado e um maço de cigarros vazio. A tv está desligada, e as gavetas todas abertas. As roupas que tenho que colocar pra lavar estão amontoadas atrás da porta. A mochila que não abro também está no chão.

O quarto está cheio de entulho.
E, ainda assim, mais vazio que nunca.

quarta-feira, 31 de março de 2010

Calcificação




Nada se move. Não há vento, não há uma brisa que seja. Tudo está tão imóvel quanto uma pedra costuma estar. O ar, estagnado, não tem temperatura. Não está frio, tampoco calor; não existe nenhum termômetro para medir esse fenômeno, pois ele só existe nos sentidos. Mais especificamente, nos meus sentidos.

Não sei o que as outras pessoas estão sentindo. Não sei se percebem como o dia está morto, estéril. Algumas crianças que posso ver pela varanda estão rindo e brincando com uma enorme bola vermelha. É provável que estejam com calor. A mulher do primeiro andar do bloco ao lado do meu veste uma blusa azul de manga comprida. Talvez não esteja exatamente com frio, mas calor tenho certeza que ela não sente.

Meu cigarro acabou, meu suco acabou, a música parou e a única coisa que ainda está em movimento são meus dedos. Tec, tec, tec. Batem no teclado rapidamente, como se seguissem uma coreografia há muito ensaiada e repetida. As palavras, a ordem delas, tudo isso suponho que seja novo. Mas o tema é o mesmo, e meus dedos acostumaram-se a isso.

Vinte e um de julho de dois mil e seis foi quando comecei O Blog. Não este, obviamente, mas O Blog, o Interruptedlines. E desde aquele dia até o presente, habituei-me a escrever publicamente sobre o que sinto e o que deixo de sentir. E esses sentimentos, ou a falta deles, variaram de intensidade, de frequência e de motivos, mas continuam basicamente os mesmos.

O vazio, o maior dos meus problemas, não me abandona há anos. É o meu demônio mais fiel, mais dedicado. Se por vezes parece que foi embora, não faz realmente diferença; está ali, escondido nas sombras, preparando uma emboscada. Usa como artifício essa brincadeira de esconde-esconde, faz-me acreditar que desistiu de mim, faz-me acreditar que estou livre. E então, quando penso estar nas alturas, ele sai daqueles becos escuros e me mostra que continuo tão afogada no meu mar de desespero quanto sempre estive.

E vocês sabem que eu não sei nadar.

E assim o dia vai terminando. O fim de mais um dia, o fim de mais um mês, o fim de mais uma tentativa. O que fiz? Que progresso tive? Que caminho tomei, que alívio senti, que esperança sentei agarrar?
Nada, nada, nada! Morta, seca, vazia até o tutano dos ossos.

Um poço vazio.
Cheio até a borda.

quarta-feira, 24 de março de 2010

O Mágico de Oz



"Eu nunca fui livre na minha vida inteira. Por dentro eu sempre me persegui. Eu me tornei intolerável para mim mesma. Vivo numa dualidade dilacerante. Eu tenho uma aparente liberdade mas estou presa dentro de mim."

Eu devo ter um defeito de fabricação, alguma peça quebrada, uma trava, um vírus. Não é possível, simplesmente é inadmissível que eu me sinta desse jeito. Uma casca, uma coisa de plástico, uma boneca que anda e fala.
Estou empacada num lugar que não é triste e nem alegre. Uma coisa morta, bege, insossa, morna. E isso acaba comigo, porque eu NÃO SEI viver assim. Como se eu estivesse simplesmente na janela, vendo minha vida passar. Como se tudo resvalasse em mim, como se nada no mundo importasse ou me interessasse.

O problema é que eu preciso sentir. Preciso saber que estou viva, para o melhor ou o pior. Preciso saber que, afinal de contas, eu não estou morta. A tristeza decorrente da minha depressão era terrível, sim, mas não se compara ao vazio de agora. Sinto-me agoniada, encurralada num beco sem saída.
Nada acontece, nada muda, nada me surpreende. Estou passando meus dias como quem segue um roteiro já programado e totalmente decorado, e isso não me agrada mesmo.


Hoje recorri aos meus antigos métodos, Dra. Jackeline não vai gostar nem um pingo disso.

terça-feira, 23 de março de 2010

Translating



[Bob and Charlotte are lying on the bed]

Charlotte: I'm stuck. Does it get easier?
Bob: No. Yes. It gets easier.
Charlotte: Oh yeah? Look at you.
Bob: Thanks. The more you know who you are, and what you want, the less you let things upset you.
Charlotte: Yeah. I just don't know what I'm supposed to be, you know. I tried being a writer, but I hate what I write. I tried taking pictures, but they were so mediocre. You know, every girl goes through a photography phase. You know, horses... taking dumb pictures of your feet.
Bob: You'll figure that out. I'm not worried about you. Keep writing.
Charlotte: But I'm so mean.
Bob: Mean's okay.